O capítulo 7 do Evangelho de João nos apresenta um dos episódios mais intrigantes e significativos do ministério de Jesus. Neste trecho, vemos como até mesmo os irmãos de Jesus, aqueles que cresceram ao Seu lado e testemunharam Seus milagres, mostraram incredulidade. Este episódio destaca a dificuldade que algumas pessoas têm em reconhecer a verdadeira identidade de Jesus, mesmo estando tão próximas dEle.
A incredulidade dos irmãos de Jesus oferece uma lição valiosa sobre a natureza da fé e a resistência humana em aceitar a verdade divina. Ao estudar João 7:1-9, podemos entender melhor como a incredulidade se manifesta, e refletir sobre a importância de uma fé genuína e aberta ao agir de Deus em nossas vidas.
Versículo 1: “E depois disso Jesus andava pela Galiléia; e já não queria andar pela Judéia, porque os judeus procuravam matá-lo.”
Neste versículo, João nos dá uma visão clara das circunstâncias difíceis que Jesus enfrentava. Jesus escolheu permanecer na Galileia para evitar a hostilidade crescente dos líderes judeus na Judeia. Este contexto nos lembra das constantes ameaças à vida de Jesus, mostrando Seu discernimento e prudência.
Essa escolha de Jesus também reflete Sua total submissão ao plano divino. Em João 8:59, vemos outra situação em que Jesus escapa de uma tentativa de apedrejamento: “Então pegaram em pedras para lhe atirarem; mas Jesus ocultou-se, e saiu do templo, passando pelo meio deles, e assim se retirou.” A vida de Jesus estava sempre sob ameaça, mas Ele agia conforme a vontade do Pai, evitando confrontos prematuros.
Versículo 2: “E estava próxima a festa dos judeus, a dos tabernáculos.”
A festa dos Tabernáculos era uma das três grandes festas judaicas, caracterizada por celebrações e rituais de gratidão pela colheita. Este evento também era um momento de reunião nacional, onde muitos judeus viajavam a Jerusalém para participar das festividades.
A proximidade desta festa realça a pressão sobre Jesus, já que era esperado que Ele participasse destas importantes celebrações religiosas. Em Levítico 23:34-43, vemos as instruções para a festa dos Tabernáculos, reforçando sua importância cultural e espiritual para o povo judeu.
Versículo 3: “Disseram-lhe, pois, seus irmãos: Sai daqui e vai para a Judéia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes.”
Os irmãos de Jesus o encorajam a ir para a Judeia, sugerindo que Ele mostrasse Seus milagres publicamente. Este conselho, no entanto, não era motivado pela fé, mas sim por uma perspectiva mundana de fama e reconhecimento.
Este versículo nos lembra de como os próprios familiares de Jesus não compreendiam plenamente Sua missão. Marcos 3:21 menciona que Seus familiares achavam que Ele estava “fora de si”. Esta falta de entendimento é um tema recorrente que sublinha a resistência mesmo entre aqueles que estavam próximos de Jesus.
Versículo 4: “Porque não há ninguém que procure ser conhecido que faça coisa alguma em oculto. Se fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo.”
Os irmãos de Jesus argumentam que, se Ele realmente realizava milagres, deveria fazê-los abertamente para ganhar notoriedade. Este pensamento reflete uma visão superficial da missão de Jesus, baseada na lógica humana de sucesso e visibilidade.
Jesus, entretanto, estava mais preocupado em cumprir a vontade do Pai do que em buscar glória humana. Em Mateus 6:1, Jesus ensina: “Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus.” Este princípio se aplica a toda a Sua vida e ministério.
Versículo 5: “Porque nem mesmo seus irmãos criam nele.”
Este versículo é crucial, ao revelar que até mesmo os irmãos de Jesus não acreditavam nEle. Esta incredulidade é notável, considerando que eles testemunharam muitos de Seus milagres e ensinamentos.
A falta de fé dos irmãos de Jesus exemplifica a dura realidade de que proximidade física com o divino não garante entendimento espiritual. Em Marcos 6:4, Jesus afirma: “Não há profeta sem honra senão na sua pátria, entre os seus parentes e na sua casa.” A familiaridade pode, paradoxalmente, dificultar o reconhecimento da verdadeira natureza divina de Jesus.
Versículo 6: “Disse-lhes, pois, Jesus: Ainda não é chegado o meu tempo, mas o vosso tempo sempre está presente.”
Jesus responde aos irmãos enfatizando a diferença entre o Seu tempo e o deles. Ele operava segundo o cronograma divino, enquanto seus irmãos estavam presos ao tempo humano, agindo sem consideração pelo plano de Deus.
A expressão “ainda não é chegado o meu tempo” destaca a obediência de Jesus ao Pai. Em João 2:4, durante o casamento em Caná, Jesus disse a Maria: “Ainda não é chegada a minha hora.” Este conceito de tempo divino é um tema recorrente, mostrando que cada ação de Jesus estava perfeitamente alinhada com a vontade do Pai.
Versículo 7: “O mundo não vos pode odiar, mas ele me odeia a mim, porquanto dele testifico que as suas obras são más.”
Jesus explica que o mundo não odeia Seus irmãos porque eles não desafiam suas obras más. Jesus, ao contrário, era odiado por expor a maldade e a corrupção do mundo.
Esta hostilidade é ilustrada em João 3:19-20: “E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.” A luz de Jesus revelava a verdade, provocando ódio daqueles que amavam as trevas.
Versículo 8: “Subi vós a esta festa; eu ainda não subo a esta festa, porque ainda o meu tempo não está cumprido.”
Jesus instrui Seus irmãos a irem à festa sem Ele, reforçando que o Seu tempo ainda não havia chegado. Esta afirmação sublinha a soberania divina sobre o Seu ministério e a Sua total submissão ao plano do Pai.
A noção de “tempo” aqui é crucial para entender a missão de Jesus. Em Eclesiastes 3:1, lemos: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.” Jesus vivia segundo este princípio, aguardando o momento perfeito determinado por Deus.
Versículo 9: “E, havendo-lhes dito isto, ficou na Galiléia.”
Este versículo conclui a passagem com Jesus permanecendo na Galileia, seguindo o plano divino em vez de ceder às pressões externas. Sua decisão reflete uma compreensão profunda da vontade de Deus e um compromisso inabalável com Seu propósito.
A permanência de Jesus na Galileia, em vez de ir a Jerusalém, demonstra uma lição importante sobre paciência e discernimento espiritual. Em Filipenses 2:8, vemos que Jesus “humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.” Sua obediência inabalável é um exemplo para todos os crentes.
Conclusão
A incredulidade dos irmãos de Jesus, como descrita em João 7:1-9, oferece uma profunda reflexão sobre a natureza da fé e as barreiras que impedem as pessoas de reconhecerem a verdade divina. Mesmo aqueles que estavam próximos de Jesus, que presenciaram Seus milagres e ouviram Seus ensinamentos, lutaram para aceitar Sua verdadeira identidade.
Este episódio nos desafia a examinar nossa própria fé e disposição para aceitar a verdade de Jesus. Será que somos como os irmãos de Jesus, buscando provas e reconhecimento mundano, ou estamos dispostos a confiar plenamente no tempo e no plano de Deus? A fé genuína exige humildade e uma abertura para o agir divino, mesmo quando não entendemos completamente.
Além disso, a resposta de Jesus aos Seus irmãos nos ensina sobre a importância de viver de acordo com o tempo de Deus. Em um mundo que valoriza a imediatidade e o reconhecimento, somos chamados a seguir o exemplo de Jesus, submetendo-nos pacientemente à vontade do Pai.
Finalmente, a incredulidade dos irmãos de Jesus serve como um lembrete de que a proximidade física com a verdade não garante entendimento espiritual. Precisamos cultivar uma relação pessoal com Jesus, baseada na fé e no reconhecimento da Sua divindade, permitindo que Sua luz revele e transforme nossa vida.