O capítulo 2 do livro de Atos dos Apóstolos nos apresenta um dos eventos mais transformadores da história do cristianismo: o dia de Pentecostes. Após o derramamento do Espírito Santo sobre os discípulos, conforme descrito em Atos 2:1-13, a multidão em Jerusalém ficou perplexa ao ouvir os seguidores de Jesus falando em línguas que não conheciam. Alguns zombaram, sugerindo embriaguez, mas Pedro, cheio de ousadia e poder divino, levantou-se para esclarecer o que estava acontecendo. Em Atos 2:14-36, encontramos seu discurso poderoso, que não apenas explica o milagre do Pentecostes, mas também proclama Jesus como o Messias prometido e Senhor ressuscitado.
Este estudo bíblico detalhado mergulha no discurso de Pedro, analisando cada versículo da passagem na tradução Almeida Corrigida e Fiel (ACF). Nosso objetivo é oferecer uma explicação clara e enriquecedora, conectando o texto ao contexto histórico, às profecias do Antigo Testamento e à mensagem central do evangelho. A fala de Pedro é um marco na fundação da igreja primitiva, e sua relevância ressoa até hoje, desafiando-nos a reconhecer a soberania de Cristo e o poder do Espírito Santo.
Vamos explorar como Pedro usa as Escrituras para mostrar que os eventos do Pentecostes cumprem as promessas de Deus, como ele confronta a multidão com a verdade sobre Jesus e como essa mensagem ecoa em nossas vidas. Prepare-se para uma jornada profunda por Atos 2:14-36, onde veremos a fidelidade divina e o chamado à fé em ação.
Explicação para Cada Versículo
“Então Pedro, pondo-se em pé com os onze, levantou a sua voz, e disse-lhes: Homens judeus, e todos os que habitais em Jerusalém, seja-vos isto notório, e escutai as minhas palavras.” (Atos 2:14 – ACF)
Pedro, antes hesitante e temeroso (Mateus 26:69-75), agora se levanta com autoridade sobrenatural, acompanhado pelos onze apóstolos. O “levantar a sua voz” não é apenas um gesto prático para ser ouvido pela multidão, mas um símbolo da coragem que o Espírito Santo lhe concedeu. Ele se dirige aos “homens judeus” e aos habitantes de Jerusalém, um público diversificado reunido para a festa de Pentecostes (Atos 2:5), mostrando que a mensagem inicial é para Israel, mas com alcance universal.
A frase “seja-vos isto notório” indica que Pedro está prestes a revelar uma verdade crucial. Ele pede atenção total às suas palavras, preparando a multidão para ouvir uma explicação divina dos eventos extraordinários que presenciaram (Atos 2:6-12). Este versículo marca o início de uma pregação que transformaria vidas, como veremos em Atos 2:37-41, onde muitos se converteram.
“Estes homens não estão embriagados, como vós pensais, visto que é apenas a terceira hora do dia.” (Atos 2:15 – ACF)
Aqui, Pedro responde diretamente à zombaria de alguns na multidão, que atribuíram o falar em línguas à embriaguez (Atos 2:13). Ele aponta a improbabilidade dessa acusação, já que eram apenas 9 da manhã (“terceira hora do dia”), uma hora em que a embriaguez seria incomum, especialmente durante uma festa religiosa. Essa refutação prática serve para captar a atenção e abrir espaço para a verdadeira explicação.
Este versículo também reflete a sobriedade e o controle dos discípulos sob a influência do Espírito Santo, contrastando com os efeitos do álcool. Em Gálatas 5:22-23, vemos que o fruto do Espírito inclui domínio próprio, algo evidente aqui. Pedro usa esse momento para desarmar os céticos e direcionar o foco para a obra de Deus.
“Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel:” (Atos 2:16 – ACF)
Pedro conecta o fenômeno do Pentecostes às Escrituras, citando Joel 2:28-32. Essa abordagem demonstra que os eventos não são aleatórios, mas o cumprimento de promessas antigas, uma prática comum no Novo Testamento (Lucas 24:44-45). Ele estabelece uma ponte entre o Antigo e o Novo Testamento, mostrando a continuidade do plano de Deus.
Ao citar Joel, Pedro prepara os ouvintes para entender que o derramamento do Espírito é um sinal profético. Isso também reflete o ensino de Jesus aos discípulos sobre o Espírito Santo como o “Consolador” prometido (João 16:7-8), agora manifestado diante deles.
“E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos mancebos terão visões, e os vossos velhos sonharão sonhos; e também sobre os meus servos e sobre as minhas servas naqueles dias derramarei do meu Espírito, e profetizarão.” (Atos 2:17-18 – ACF)
Pedro inicia a citação de Joel, declarando que os “últimos dias” começaram. O termo refere-se à era messiânica, inaugurada por Jesus (Hebreus 1:1-2). O derramamento do Espírito sobre “toda a carne” destaca a universalidade dessa bênção, quebrando barreiras de gênero, idade e status social, algo revolucionário para a época.
Filhos, filhas, jovens, idosos, servos e servas — todos recebem o Espírito e dons como profecia, visões e sonhos. Isso cumpre promessas como Jeremias 31:33-34, onde Deus coloca Sua lei nos corações, e contrasta com o Antigo Testamento, onde o Espírito era dado a indivíduos específicos (Números 11:29). Em Atos 2:4, vemos isso em ação com o falar em línguas.
“E farei aparecer prodígios em cima no céu e sinais em baixo na terra, sangue, fogo e vapor de fumaça.” (Atos 2:19 – ACF)
Continuando a profecia de Joel, Pedro menciona sinais cósmicos que acompanharão os últimos dias. Embora não tenham ocorrido literalmente no Pentecostes, esses “prodígios” apontam para eventos escatológicos associados ao retorno de Cristo (Mateus 24:29-30). No contexto imediato, podem simbolizar a transformação radical iniciada pelo evangelho.
Esses fenômenos também ecoam juízos divinos no Antigo Testamento, como as pragas do Egito (Êxodo 7:17-21), reforçando a ideia de que Deus está agindo poderosamente. Em Atos, os sinais começam com o Espírito, preparando o caminho para o “dia do Senhor”.
“O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e glorioso dia do Senhor.” (Atos 2:20 – ACF)
Pedro prossegue com imagens apocalípticas que precedem o “dia do Senhor”, um conceito de julgamento e salvação (Joel 2:31; Apocalipse 6:12). No Pentecostes, esses sinais ainda estão no futuro, mas servem para enfatizar a urgência da mensagem de salvação que ele está prestes a oferecer.
Essa linguagem cósmica também aparece em passagens como Isaías 13:10, conectando o discurso de Pedro a uma tradição profética mais ampla. Ele usa isso para despertar a multidão para a gravidade do momento presente.
“E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” (Atos 2:21 – ACF)
O clímax da citação de Joel traz a promessa de salvação universal. “Invocar o nome do Senhor” implica fé e arrependimento, como Pedro explicará em Atos 2:38. Esta oferta ecoa Romanos 10:13, mostrando que a salvação é acessível a todos que crerem.
No contexto de Joel, “Senhor” é YHWH, mas Pedro logo identificará Jesus como esse Senhor, unindo a divindade de Cristo à promessa de redenção. Este versículo é o fundamento do apelo evangelístico que se segue.
“Homens israelitas, escutai estas palavras: Jesus Nazareno, homem aprovado por Deus entre vós com maravilhas, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis;” (Atos 2:22 – ACF)
Pedro agora foca em Jesus, chamando-o de “Nazareno” e destacando Sua aprovação divina por meio de milagres (João 3:2). Esses sinais eram amplamente conhecidos, como a cura do cego em João 9 e a ressurreição de Lázaro (João 11:43-44), atestando Sua identidade messiânica.
Ele apela à memória da multidão, muitos dos quais testemunharam ou ouviram falar desses eventos (Lucas 24:18-19). Isso estabelece a base factual para o argumento que seguirá sobre a morte e ressurreição de Jesus.
“A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, tomando-o vós, o crucificastes e matastes pelas mãos dos injustos;” (Atos 2:23 – ACF)
Pedro equilibra a soberania de Deus com a responsabilidade humana. A crucificação foi parte do plano divino (Isaías 53:10), mas os líderes judeus e romanos (“injustos”) foram culpados por executá-la (Atos 4:27-28). Isso reflete a tensão teológica vista em Lucas 22:22.
A expressão “determinado conselho” mostra que a morte de Jesus não foi um acidente, mas o meio de redenção planejado por Deus (Efésios 1:11). Pedro confronta a multidão com sua cumplicidade, preparando-os para o arrependimento.
“Ao qual Deus ressuscitou, soltas as ânsias da morte, pois não era possível que fosse retido por ela.” (Atos 2:24 – ACF)
A ressurreição é o cerne da mensagem de Pedro. Deus reverteu a morte de Jesus, “soltando as ânsias da morte”, uma metáfora para o poder que a morte perdeu (1 Coríntios 15:55-57). A impossibilidade de Jesus ser retido reflete Sua natureza divina e vitória (João 10:18).
Este evento é o fundamento da fé cristã, como Paulo destaca em 1 Coríntios 15:14. Em Atos 2:32, Pedro reforçará isso com o testemunho ocular dos apóstolos.
“Porque dele disse Davi: Sempre via diante de mim o Senhor, porque está à minha direita, para que eu não seja comovido;” (Atos 2:25 – ACF)
Pedro cita o Salmo 16:8-11, aplicando-o a Jesus. Originalmente, Davi expressava confiança em Deus, mas Pedro o vê como profecia messiânica. A presença do “Senhor” à direita sugere proteção divina, cumprida na ressurreição de Cristo.
Essa interpretação mostra como os apóstolos liam o Antigo Testamento à luz de Jesus (Lucas 24:27). O “não ser comovido” aponta para a vitória sobre a morte.
“Por isso se alegrou o meu coração, e a minha língua exultou; e ainda também a minha carne habitará em esperança; porque não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja a corrupção.“ (Atos 2:26-27 – ACF)
A alegria e esperança do Salmo 16 são aplicadas à ressurreição de Jesus. “Não deixarás a minha alma no inferno” (Sheol) e “nem permitirás que o teu Santo veja a corrupção” indicam que Jesus não permaneceu morto nem seu corpo se decompôs, algo único (Atos 13:35-37).
Isso contrasta com reis terrenos, como Davi, que morreram e decaíram. A ressurreição antes da corrupção (geralmente após três dias) é evidenciada em João 11:39 e cumprida em Cristo (Lucas 24:46).
“Fizeste-me conhecidos os caminhos da vida; com a tua face me encherás de júbilo.” (Atos 2:28 – ACF)
O Salmo 16 termina com a exultação na presença de Deus, que Pedro aplica à ascensão de Jesus. Os “caminhos da vida” foram revelados por meio da ressurreição, e o “júbilo” reflete a glória de Cristo à destra do Pai (Hebreus 12:2).
Essa alegria eterna contrasta com a morte temporária, mostrando o triunfo de Jesus (João 16:22). Pedro usa isso para reforçar a exaltação de Cristo.
“Homens irmãos, seja-me lícito dizer-vos livremente acerca do patriarca Davi, que ele morreu e foi sepultado, e entre nós está até hoje a sua sepultura.” (Atos 2:29 – ACF)
Pedro esclarece que Davi, autor do salmo, não falava de si mesmo, pois morreu e seu túmulo era conhecido (1 Reis 2:10). Isso diferencia Davi de Jesus, o verdadeiro fulfillment da profecia.
Essa distinção é crucial para o argumento de Pedro: o Salmo 16 aponta para o Messias ressuscitado, não para Davi, que permaneceu na sepultura.
“Sendo, pois, ele profeta, e sabendo que Deus lhe havia prometido com juramento que do fruto de seus lombos, segundo a carne, levantaria o Cristo, para o assentar sobre o seu trono,” (Atos 2:30 – ACF)
Davi, como profeta, anteviu o Messias vindo de sua linhagem (2 Samuel 7:12-13). O “juramento” de Deus garante a promessa de um rei eterno, cumprida em Jesus (Lucas 1:32-33).
Pedro conecta a ressurreição ao reinado de Cristo, mostrando que a ascensão ao trono celestial é parte do plano messiânico (Atos 5:31).
“Nesta previsão, disse da ressurreição de Cristo, que a sua alma não foi deixada no inferno, nem a sua carne viu a corrupção.” (Atos 2:31 – ACF)
Pedro reitera que o Salmo 16 profetiza a ressurreição de Jesus. A ausência de corrupção e a libertação do Sheol são evidências concretas do cumprimento em Cristo (Atos 13:34-35).
Essa repetição reforça a centralidade da ressurreição na mensagem apostólica, como em Atos 4:33, onde os apóstolos testificam com poder.
“Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos testemunhas.” (Atos 2:32 – ACF)
Pedro apela ao testemunho direto dos apóstolos, que viram Jesus vivo (1 Coríntios 15:5-8). Esse fato histórico é a base da pregação cristã, como visto em Atos 10:40-41.
A ressurreição não é apenas uma doutrina, mas uma realidade vivida, dando credibilidade à mensagem de Pedro perante a multidão.
“De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis.” (Atos 2:33 – ACF)
A ascensão de Jesus à destra de Deus (Salmos 110:1) e o envio do Espírito cumprem a promessa de João 7:39. O que a multidão via e ouvia (Atos 2:6-11) era evidência da exaltação de Cristo.
Essa conexão entre ressurreição, ascensão e Pentecostes mostra a obra completa de Jesus, capacitando a igreja (Atos 1:8).
“Porque Davi não subiu aos céus, mas ele próprio diz: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés.” (Atos 2:34-35 – ACF)
Citado do Salmo 110:1, Pedro prova que Davi profetizou sobre o Messias exaltado, não sobre si mesmo. Jesus é o “Senhor” à direita de Deus, como em Hebreus 1:3.
Essa exaltação implica autoridade suprema (Mateus 28:18), e o “escabelo” aponta para a vitória final de Cristo sobre Seus inimigos (1 Coríntios 15:25).
“Saiba, pois, com certeza toda a casa de Israel que a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo.” (Atos 2:36 – ACF)
Pedro conclui com um apelo incisivo: Jesus, crucificado pela multidão, é o Senhor e Messias. Essa declaração confronta os ouvintes com sua culpa e a soberania de Deus (Filipenses 2:9-11). A certeza exigida ecoa Atos 4:12, onde a salvação está unicamente em Jesus, o Cristo ressuscitado e exaltado.
Conclusão
O discurso de Pedro em Atos 2:14-36 é uma obra-prima teológica e evangelística. Capacitado pelo Espírito Santo, ele explica o milagre do Pentecostes como o cumprimento das profecias de Joel e Davi, proclamando Jesus como o Messias ressuscitado e Senhor. Cada argumento é fundamentado nas Escrituras, mostrando a continuidade do plano de Deus desde o Antigo Testamento até os eventos que a multidão testemunhava. Este momento marca o nascimento da igreja e o início da missão de espalhar o evangelho.
A mensagem de Pedro não é apenas informativa, mas confrontadora. Ele responsabiliza a multidão pela morte de Jesus, ao mesmo tempo em que oferece esperança por meio da ressurreição e da promessa de salvação (Atos 2:21). A resposta, registrada em Atos 2:37-41, mostra o impacto: cerca de três mil pessoas se arrependeram e foram batizadas, um testemunho do poder da Palavra pregada sob a unção do Espírito.
Para os cristãos de hoje, este texto é um chamado à ousadia na proclamação do evangelho. Assim como Pedro, somos capacitados pelo Espírito para testemunhar de Cristo, confiando que Deus cumpre Suas promessas. Também nos desafia a refletir: reconhecemos Jesus como Senhor e Messias em nossas vidas? Estamos vivendo de acordo com essa verdade transformadora?
Por fim, o discurso de Pedro nos lembra da fidelidade de Deus. O mesmo Espírito derramado no Pentecostes está disponível para nos guiar e fortalecer. Que possamos, como a igreja primitiva, ser testemunhas fiéis de Jesus, levando Sua mensagem de salvação até os confins da terra, como ordenado em Atos 1:8.