O Evangelho de João, apesar de compartilhar algumas semelhanças com os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, não é considerado um evangelho sinótico devido às suas diferenças marcantes. Em contraste, o Evangelho de João oferece uma perspectiva única e distinta, com uma abordagem teológica e estilística própria, enfatizando aspectos diferentes da vida e missão de Jesus.
Escrito por João, o apóstolo amado, ele se destaca por sua abordagem teológica profunda e por enfatizar a divindade de Jesus Cristo desde o início. O capítulo 1, em particular, serve como uma espécie de prólogo, apresentando Jesus como o Verbo, ou a Palavra de Deus, que se tornou carne.
Versículo 1: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.”
Este versículo estabelece a preexistência eterna de Jesus Cristo como o Verbo. Ele existia antes da criação do mundo e estava em íntima comunhão com Deus, revelando sua natureza divina. Esta declaração ressoa com o relato do Gênesis sobre a criação, onde Deus fala e traz à existência a luz e a vida. Aqui, o Verbo é identificado como parte integrante desse ato criativo, implicando sua autoridade e poder divinos.
Versículos 2-3: “Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.”
Esses versículos enfatizam a participação ativa do Verbo na criação. Não apenas ele estava presente no início, mas todas as coisas foram feitas por meio dele. Isso ressalta não apenas a divindade de Jesus, mas também sua soberania sobre toda a criação. Essa ideia é ecoada em outros lugares das Escrituras, como em Colossenses 1:16, onde Paulo escreve que “nele foram criadas todas as coisas”.
Versículos 4-5: “Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.”
Aqui, a vida e a luz são atribuídas ao Verbo, que é Jesus Cristo. Ele é a fonte de vida espiritual e iluminação para a humanidade. No entanto, embora a luz tenha vindo ao mundo, muitos não a reconheceram ou a receberam. Isso aponta para a natureza da incredulidade humana e para a necessidade da obra do Espírito Santo para iluminar os corações e trazer compreensão espiritual.
Versículos 6-8: “Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João. Este veio para testemunho, para que testificasse da luz, para que todos cressem por ele. Não era ele a luz, mas para que testificasse da luz.”
Aqui, João Batista é introduzido como testemunha da luz, apontando para a chegada iminente de Jesus Cristo. Ele veio preparando o caminho para o Messias e chamando as pessoas ao arrependimento. Embora seja importante, João Batista reconhece sua posição como precursor e declara que ele não é a própria luz, mas veio para testificar dela.
Versículos 9-13: “Ali estava a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem ao mundo. Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome; Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.”
Esses versículos destacam a rejeição inicial de Jesus pelo mundo, apesar de ser a fonte de luz e vida. No entanto, aqueles que o recebem são concedidos o privilégio de se tornarem filhos de Deus. Isso destaca a importância da fé em Jesus Cristo para a salvação e enfatiza que o novo nascimento espiritual é uma obra graciosa de Deus.
Versículos 14-18: “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade. João testificou dele, e clamou, dizendo: Este era aquele de quem eu dizia: O que vem após mim é antes de mim, porque foi primeiro do que eu. E todos nós recebemos também da sua plenitude, e graça por graça. Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo. Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou.”
João termina dizendo que o Verbo se fez carne e habitou entre nós, como Jesus Cristo. Ele revela a glória divina de Jesus, cheia de graça e verdade. João Batista dá testemunho de Jesus como superior a ele em posição e em eternidade. A encarnação de Jesus é apresentada como o cumprimento da promessa divina e a manifestação definitiva da graça e da verdade.
Conclusão:
O primeiro capítulo do Evangelho de João estabelece uma base sólida para a compreensão da pessoa e do propósito de Jesus Cristo. Ele enfatiza sua pré-existência divina, seu papel na criação, sua encarnação como o Verbo feito carne e sua capacidade de conceder vida e filiação a todos que creem nele. É um convite para que todos venham à luz de Cristo e experimentem a plenitude de sua graça e verdade.