Introdução à Ascensão de Jesus: Um Estudo de Atos 1:1-14

Published On: 29 de setembro de 2024Categories: Atos, Estudo Bíblico

O livro de Atos dos Apóstolos, escrito por Lucas, tem um papel crucial na narrativa da história da Igreja primitiva, evidenciando a transição entre o ministério terrestre de Jesus e o surgimento da Igreja. Nos primeiros capítulos, especialmente em Atos 1, somos introduzidos ao momento da ascensão de Cristo, que marca o encerramento de sua obra redentora na terra e o início de uma nova era, onde os apóstolos, fortalecidos pelo Espírito Santo, seriam os responsáveis por levar adiante a mensagem do Evangelho. Esta passagem não apenas retrata o final do ministério de Jesus, mas também estabelece a expectativa e a preparação dos discípulos para a missão que os aguardava.

Ao explorarmos os versículos 1 a 14 de Atos, somos convidados a refletir sobre a importância da ascensão de Jesus e seu significado para a fé cristã. Neste contexto, a ascensão não é apenas um evento histórico, mas um elemento teológico fundamental que enfatiza a divindade de Cristo, sua autoridade e a promessa do Espírito Santo, que seria enviado para guiar os crentes em sua missão. A ascensão de Jesus é um momento de grande esperança, onde os discípulos, após serem instruídos por seu mestre, são chamados a viver de acordo com sua nova missão.

Explicação por Versículo

Atos 1:1 “O primeiro tratado fiz, ó Teófilo, acerca de tudo que Jesus começou a fazer e a ensinar.”

Neste versículo, Lucas se dirige a Teófilo, que significa “Amado de Deus” ou “amigo de Deus”, do grego theophilos. É interessante notar que, ao utilizar esse nome, Lucas pode estar fazendo uma referência à natureza divina de Deus, assim como mencionado em Lucas 1:3, onde ele fala:“Pareceu-me também a mim conveniente descrevê-los a ti, ó excelente Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado minuciosamente de tudo desde o princípio;”. Assim, Lucas parece enfatizar que seu relato é não apenas uma narrativa histórica, mas também um testemunho do cumprimento das promessas divinas.

A referência à “primeira parte” sugere que Lucas já havia escrito o evangelho, onde apresentou os ensinamentos e ações de Jesus. O propósito de seu relato é enfatizar a continuidade do ministério de Jesus, que não termina com sua ascensão, mas se expande por meio da Igreja

Neste versículo, Lucas enfatiza que tudo o que Jesus fez e ensinou estava documentado e que este novo livro, Atos, continuará a narrativa, enfocando o que Jesus fez por meio dos apóstolos após sua ascensão. Essa conexão entre os dois livros destaca a continuidade do plano de Deus, mostrando que Jesus ainda atua na história através do Espírito Santo e da Igreja. Para complementar, podemos observar a importância de Lucas em fornecer uma narrativa ordenada (Lucas 1:3), que ajuda os leitores a entenderem o ministério de Jesus e a fundação da Igreja.

Atos 1:2 “Até ao dia em que foi recebido em cima, depois de ter dado mandamentos, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que escolhera;”

Lucas menciona que Jesus deu mandamentos aos apóstolos por meio do Espírito Santo. Esse detalhe é fundamental, pois destaca a atividade do Espírito na vida dos discípulos, indicando que a obra de Deus continua. A escolha dos apóstolos reflete a soberania de Jesus, que confiou a eles a responsabilidade de continuar sua missão. O mandamento a que Lucas se refere pode ser visto em várias instruções de Jesus, como a Grande Comissão (Mateus 28:19-20), onde Ele ordena ide, fazei discípulos de todas as nações.

Atos 1:3 “Aos quais também, depois de haver padecido, se apresentou vivo com muitas provas, sendo visto por eles durante quarenta dias e falando das coisas concernentes ao reino de Deus.”

Aqui, Lucas afirma que Jesus ressuscitou e apareceu a seus discípulos durante 40 dias. Essas aparições foram acompanhadas de “muitas provas,” fortalecendo a fé dos apóstolos em sua ressurreição. O fato de que Jesus falou sobre o reino de Deus durante esse tempo é significativo, pois reafirma a centralidade do reino em sua mensagem. Esse aspecto é uma continuidade da pregação de Jesus durante seu ministério, conforme mencionado em Mateus 4:17. Além disso, as evidências da ressurreição são fundamentais para a fé cristã, conforme Paulo menciona em 1 Coríntios 15:14.

Atos 1:4 “E, comendo com eles, ordenou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, a qual disse Ele: de mim ouvistes.”

Neste versículo, Jesus instrui os apóstolos a permanecerem em Jerusalém e aguardarem a “promessa do Pai.” Essa promessa refere-se ao Espírito Santo, conforme anunciado em Lucas 24:49 e João 14:16-17, onde Jesus afirma que o Consolador viria. A espera em Jerusalém é crucial, pois indica que os apóstolos deveriam primeiro se preparar espiritualmente antes de iniciar a missão, mostrando a importância da dependência do Espírito Santo em toda ação do crente.

Atos 1:5 “Porque João na verdade batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muitos dias depois destes.”

Jesus contrasta o batismo de João com o batismo do Espírito Santo que os apóstolos receberiam. O batismo com água era um sinal de arrependimento, enquanto o batismo no Espírito Santo simboliza a capacitação e a transformação interna que os crentes experimentariam. Esta promessa foi cumprida no dia de Pentecostes (Atos 2), onde o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos, permitindo-lhes pregar em várias línguas. O evento é um marco na história da Igreja e reflete a profecia de Joel 2:28-29, onde Deus promete derramar seu Espírito sobre toda a carne.

Atos 1:6 “Então, os que estavam reunidos, perguntaram-Lhe, dizendo: Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel?”

A pergunta dos discípulos revela sua expectativa messiânica, focando na restauração do reino de Israel. Eles ainda não compreendiam completamente a natureza do reino que Jesus estava estabelecendo, que era espiritual e não político. Jesus frequentemente falava do reino de Deus, mas os apóstolos ainda estavam com suas expectativas voltadas para uma restauração temporal. A resposta de Jesus, que se segue, enfatiza que o tempo e a época estão nas mãos do Pai (Atos 1:7), indicando que os planos de Deus vão além das expectativas humanas.

Atos 1:7 “Ele, porém, disse-lhes: Não vos pertence saber os tempos ou as épocas que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder.”

Jesus, ao responder, reafirma a soberania de Deus sobre os tempos e épocas. Essa resposta é um lembrete importante para os crentes, de que algumas questões estão além da compreensão humana e que a confiança em Deus deve ser total. A ênfase aqui é que a missão dos discípulos não deve ser distraída por especulações sobre o futuro, mas sim focar na tarefa que lhes foi dada. Isso ecoa as palavras de Tiago 4:13-15, onde é mencionado que devemos buscar a vontade de Deus em nossos planos.

Atos 1:8 “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judeia e Samaria, e até aos confins da terra.”

Neste versículo central, Jesus promete que os apóstolos receberão poder ao descer sobre eles o Espírito Santo. Esse poder não é apenas para edificação pessoal, mas para que eles sejam testemunhas de Cristo em todo o mundo. A missão é progressiva, começando em Jerusalém e se estendendo até os confins da terra, refletindo a abrangência da mensagem do Evangelho. A expressão “até os confins da terra” destaca o alcance universal do Evangelho, que deve ser levado a todos os povos.

Atos 1:9 “E, dizendo estas coisas, vendo-os, foi elevado; e uma nuvem o recebeu, ocultando-o de seus olhos.”

A ascensão de Jesus é um momento crucial, simbolizando a glorificação de Cristo e sua ascensão ao céu. A nuvem que o recebe pode ser vista como um símbolo da presença de Deus, similar ao que se viu na transição de Moisés (Êxodo 13:21-22). A ascensão confirma a natureza divina de Jesus, mostrando que ele não é apenas um profeta, mas o Filho de Deus exaltado. Essa cena é um ponto de transição, onde a missão dos apóstolos começa e é um testemunho da promessa de que Jesus voltará (Atos 1:11).

Atos 1:10 “E, estando eles com os olhos fitos no céu, enquanto ele subia, eis que junto deles se puseram dois varões vestidos de branco.”

Os dois varões vestidos de branco que aparecem após a ascensão simbolizam a presença divina e são uma lembrança do poder de Deus na situação. Eles vêm para encorajar os discípulos e lhes lembram que Jesus retornará. Este momento é semelhante ao relato de Gênesis 18:2, onde dois anjos aparecem a Abraão. A presença desses mensageiros enfatiza que a ascensão não é apenas um fim, mas um novo começo para a missão da Igreja.

Atos 1:11 “Os quais também lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando para o céu? Este Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir.”

A afirmação dos anjos é um convite à ação, exortando os discípulos a não se perderem em contemplação, mas a se prepararem para a missão. A promessa de que Jesus retornará reforça a esperança cristã na segunda vinda. Este conceito é reiterado em Apocalipse 1:7, onde é declarado que Jesus voltará visivelmente. A mensagem dos anjos foi um incentivo para que os apóstolos vivessem em expectativa e prontidão para a missão que lhes foi confiada.

Atos 1:12 “Então, voltaram para Jerusalém, do monte chamado das Oliveiras, que está perto de Jerusalém, distante um dia de sábado.”

Após a ascensão, os discípulos obedecem à ordem de Jesus e retornam a Jerusalém. O Monte das Oliveiras é um local de grande significado na narrativa bíblica, pois é onde muitos eventos importantes ocorreram, incluindo a oração de Jesus antes de sua crucificação (Mateus 26:36). O retorno a Jerusalém é um ato de obediência e preparação para o cumprimento da promessa do Espírito Santo.

Atos 1:13 “E, entrando, subiram ao cenáculo, onde habitavam; Pedro, e João, e Tiago, e André; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, Zelote, e Judas, filho de Tiago.”

Aqui, Lucas lista os apóstolos que estavam reunidos, destacando a unidade do grupo. O cenáculo, ou sala superior, é o local onde os discípulos se reuniriam para oração e espera do Espírito Santo. A lista também reafirma a inclusão de todos os apóstolos, enfatizando a importância da comunidade de crentes na missão de Deus. Esse aspecto é importante, pois Jesus os chamou a serem um só corpo, conforme mencionado em 1 Coríntios 12:12-27.

Atos 1:14 “Todos estes perseveravam unanimemente em oração e súplicas, com as mulheres e Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus.”

A devoção dos discípulos à oração é um exemplo para a Igreja. A presença de mulheres e da mãe de Jesus entre eles sublinha a inclusão e a unidade que caracterizam a nova comunidade de fé. A oração fervorosa e a súplica por direções divinas são essenciais antes da manifestação do Espírito Santo. Essa perseverança em oração também ecoa os ensinamentos de Jesus sobre a importância da oração em Lucas 18:1, onde Ele ensina a necessidade de orar sempre.

Conclusão

A ascensão de Jesus é um momento significativo que marca a transição do ministério de Cristo para a responsabilidade dos apóstolos e nossa nos dias de hoje. Este evento não apenas cumpre as promessas do Antigo Testamento, mas também reafirma a divindade de Jesus e a necessidade da ação do Espírito Santo na vida dos crentes. A expectativa pela vinda do Espírito e o compromisso dos apóstolos em permanecer em oração e unidade são fundamentais para a missão que eles receberam. A ascensão nos lembra da soberania de Deus sobre a história e da continuidade do plano divino através da Igreja.

Além disso, a ascensão de Cristo oferece esperança ao crente, pois promete que Jesus retornará. Essa expectativa molda a maneira como vivemos e testemunhamos o Evangelho. A comunidade de crentes, unida em oração e comprometida com a missão, reflete a obra de Deus na terra. Assim, cada crente é chamado a ser uma testemunha, proclamando a mensagem de Jesus em todos os lugares, fortalecidos pelo Espírito Santo que nos foi prometido.

Por fim, ao olharmos para Atos 1, somos desafiados a permanecer firmes na fé, unidos em oração e a aguardar ansiosamente a volta do nosso Senhor. A ascensão de Jesus não é um ponto final, mas o início de uma nova fase da obra de Deus através da Igreja, onde somos chamados a agir, testemunhar e viver de acordo com os princípios do reino de Deus. Que possamos, assim como os apóstolos, estar preparados e expectantes para a obra que Deus tem para nós.

Share this article

Written by : Ministério Veredas Do IDE

Leave A Comment