A narrativa da ascensão de Jesus em Atos dos Apóstolos 1:1-14 é um dos eventos mais significativos do Novo Testamento, marcando a transição entre o ministério terreno de Cristo e o início da missão da Igreja. Este trecho não apenas conclui a presença física de Jesus entre os seus seguidores, mas também inaugura a era do Espírito Santo, preparando os apóstolos para a grande comissão. Através deste estudo, exploraremos como a ascensão de Jesus não é apenas um evento histórico, mas um fundamento teológico que define a missão e a identidade da Igreja.
A ascensão é descrita com detalhes suficientes para entender sua importância, mas com uma simplicidade que evoca a profundidade da realidade espiritual que está sendo revelada. Lucas, o autor, nos leva de uma revisão do ministério de Jesus, passando por sua última instrução aos apóstolos, até o momento de sua partida, que é simultaneamente um adeus e uma promessa de retorno, além de uma promessa de poder através do Espírito Santo.
Atos 1:1
“Ó Teófilo, no primeiro tratado, tratei de todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar,”
Lucas começa seu segundo volume, Atos dos Apóstolos, reiterando o tema do Evangelho de Lucas – o ministério de Jesus. A menção de Teófilo estabelece uma continuidade com o Evangelho, mostrando que o trabalho de Jesus não parou com sua morte e ressurreição; ele continua através da Igreja. Este versículo nos lembra que Jesus não apenas ensinou, mas atuou, preparando o caminho para a Igreja (Lucas 1:3).
A ideia de “começou” implica que o que Jesus fez na terra é apenas o início de uma obra maior que se manifestaria através dos apóstolos e da Igreja. Isso é essencial para entender que a ascensão de Jesus não é um fim, mas um novo começo para a expansão do Reino de Deus (Marcos 16:19-20).
Atos 1:2
“Até ao dia em que foi recebido em cima, depois de, pelo Espírito Santo, ter dado mandamentos aos apóstolos que escolhera;”
Lucas foca na ascensão como um momento definidor. Jesus, ao ser “recebido em cima”, não apenas demonstra sua divindade e autoridade mas também estabelece a autoridade dos apóstolos para ensinar e agir em seu nome. O destaque no Espírito Santo é crucial; ele é quem transmitirá os comandos de Jesus aos apóstolos (Efésios 1:20-23).
Este versículo também nos mostra que a ascensão é um evento teológico que confirma a ressurreição e a exaltação de Jesus, e ao mesmo tempo, um momento de transferência de autoridade, onde os apóstolos recebem a comissão divina para continuar a obra de Cristo (João 20:21-23).
Atos 1:3
“Aos quais também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas, sendo visto por eles por espaço de quarenta dias e falando do reino de Deus.”
Jesus, após sua ressurreição, ofereceu provas tangíveis de sua vida pós-morte, solidificando a crença em sua ressurreição. A menção de “quarenta dias” é simbólica, evocando períodos de preparação no Antigo Testamento. Durante este tempo, ele ensinou sobre o Reino de Deus, preparando os discípulos para a missão que teriam após sua partida (Lucas 24:44-49).
A insistência nas “muitas e infalíveis provas” é central para a fé cristã, oferecendo uma base irrefutável para a proclamação do Evangelho. Este período é de instrução intensiva, preparando os discípulos para testemunhar com autoridade e certeza (1 Coríntios 15:5-8).
Atos 1:4-5
“E, comendo com eles, ordenou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, a qual (disse ele) de mim ouvistes. Porque João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias.”
Jesus, em um ato de comunhão, come com seus discípulos, simbolizando unidade e continuidade. A ordem de esperar em Jerusalém pela promessa do Pai é uma instrução de preparação espiritual antes da ação missionária. A promessa do Espírito Santo é uma continuação dos ensinamentos de Jesus sobre a vinda do Consolador (João 14:16-17).
A distinção entre o batismo de João e o batismo com o Espírito Santo é fundamental. O primeiro é para arrependimento, o segundo para capacitação para a missão. Esta promessa antecipa Pentecostes, onde o Espírito Santo capacitará os discípulos para testemunhar globalmente (Atos 2:1-4; Mateus 3:11).
Atos 1:6-8
“Então, os que se haviam reunido perguntaram-lhe, dizendo: Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel? E disse-lhes: Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder. Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra.”
Os discípulos ainda estavam presos a uma visão política de restauração do reino de Israel, mas Jesus os redireciona para uma missão espiritual. A resposta de Jesus sobre não saber os tempos ou estações é uma lição sobre a soberania divina e o foco na missão presente. A promessa do Espírito Santo é o poder para testemunho, não para especular sobre o fim dos tempos (Marcos 13:32).
A missão de ser testemunhas “até aos confins da terra” é uma expansão da visão messiânica para além dos limites judaicos, universalizando a mensagem de salvação (Isaías 49:6). Este é o mandato missionário da Igreja, que começa em Jerusalém e se estende ao mundo inteiro (Mateus 28:19-20).
Atos 1:9-11
“E, quando dizia estas coisas, vendo-o eles, foi elevado às alturas, e uma nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos. E, estando eles com os olhos fitos no céu, enquanto ele subia, eis que junto deles se puseram dois varões vestidos de branco, os quais lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir do modo como o vistes ir para o céu.”
A descrição da ascensão é clara e majestosa, com Jesus sendo elevado enquanto os discípulos observam, simbolizando sua exaltação. A aparição dos anjos confirma a realidade do evento e dá a promessa do retorno de Cristo, conectando a ascensão com a esperança escatológica (1 Tessalonicenses 4:16-17).
Este momento é uma transição entre a presença física de Jesus e sua presença espiritual através do Espírito Santo. A garantia dos anjos sobre o retorno de Jesus oferece aos discípulos, e a todos os crentes, um alicerce para a esperança e a vigilância (Hebreus 9:28).
Atos 1:12-14
“Então, voltaram para Jerusalém, do monte chamado das Oliveiras, o qual está perto de Jerusalém, à distância do caminho de um sábado. E, entrando, subiram ao cenáculo, onde habitavam Pedro e Tiago, João e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelote, e Judas, irmão de Tiago. Todos estes perseveravam unanimemente em oração e súplica, com as mulheres, e Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele.”
Após a ascensão, os discípulos retornam a Jerusalém, cumprindo a instrução de Jesus de esperar pelo Espírito Santo. A menção do cenáculo e dos participantes indica uma comunidade unida em oração, preparando-se para o Pentecostes. Este grupo diversificado, incluindo Maria, mostra a inclusividade da Igreja incipiente (Lucas 24:53).
A unidade em oração é um tema recorrente em Atos, simbolizando a dependência do Espírito Santo para a missão. A perseverança em oração mostra a importância da comunhão e da espera ativa pela promessa de Deus (Romanos 12:12).
Conclusão
A ascensão de Jesus, conforme descrita em Atos 1:1-14, não é meramente um evento de despedida, mas um ponto de partida para a vida da Igreja sob a orientação do Espírito Santo. Este evento nos ensina que a missão da Igreja é global, espiritual, e dependente do poder divino, não de forças humanas. A espera pela promessa do Espírito Santo é um modelo de preparação espiritual para todos os crentes, ensinando paciência, oração, e comunidade.
Além disso, a ascensão nos convida a uma vida de testemunho, onde cada crente é chamado a ser uma testemunha de Jesus, não apenas em palavras, mas em ações e estilo de vida, refletindo a presença de Cristo em suas vidas. A promessa de seu retorno nos mantém vigilantes, mas ativos na missão, sabendo que nosso trabalho na terra tem um propósito eterno.
Este estudo nos lembra que a Igreja é um corpo vivo, ativo, e espiritual, capacitado pelo mesmo Espírito que ressuscitou Jesus dos mortos. A ascensão é uma afirmação de que, embora Jesus não esteja mais fisicamente presente, seu poder, ensinamentos, e missão continuam através de nós, guiados pelo Espírito Santo.
Por fim, a ascensão de Jesus é um chamado para que cada cristão viva em expectativa da vinda do Reino de Deus, participando ativamente na missão de testemunhar, ensinar, e amar como Jesus fez, sabendo que somos parte de algo muito maior do que podemos ver ou imaginar.