O capítulo 7 do Evangelho de João descreve um momento crucial no ministério de Jesus: Sua ida à Festa dos Tabernáculos e Seus ensinamentos no Templo. Este período de festa, uma das mais importantes para os judeus, era uma oportunidade para Jesus revelar mais sobre Sua missão e Sua identidade. Apesar de saber dos perigos que o aguardavam, Jesus foi ao Templo, onde Suas palavras causaram grande divisão entre o povo e os líderes religiosos.
A Festa dos Tabernáculos, ou Sucot, celebrava a provisão de Deus durante o êxodo dos israelitas no deserto. Era um tempo de alegria e lembrança da fidelidade divina. Neste contexto, as declarações de Jesus ganharam um peso significativo, desafiando as expectativas messiânicas e confrontando diretamente as autoridades religiosas de Sua época.
Explicação por Versículo:
João 7:10 “Mas, depois que seus irmãos subiram à festa, então subiu ele também, não manifestamente, mas como em oculto.”
Jesus decide subir à festa em segredo para evitar uma exposição prematura. Sua precaução demonstra sabedoria frente à oposição crescente, mas também cumpre Seu tempo divinamente estabelecido (João 7:6).
João 7:11-12 “Ora, os judeus procuravam-no na festa e diziam: Onde está ele? E havia grande murmuração entre o povo a respeito dele; porque uns diziam: Ele é bom; e outros diziam: Não, antes engana o povo.”
A procura dos judeus por Jesus revela a tensão existente. O murmúrio entre o povo reflete a divisão e a confusão sobre Sua identidade e missão, algo que persiste ao longo do Seu ministério.
João 7:13 “Todavia, ninguém falava dele abertamente, por medo dos judeus.”
O medo da liderança religiosa impedia discussões abertas sobre Jesus, evidenciando a repressão religiosa da época e a controvérsia que Suas palavras e ações geravam.
João 7:14-15 “Mas, no meio da festa, subiu Jesus ao templo e ensinava. E os judeus maravilhavam-se, dizendo: Como sabe este letras, não as tendo aprendido?”
Jesus surpreende ao ensinar no Templo, demonstrando profundo conhecimento das Escrituras sem a educação formal que os rabinos recebiam. Isto indica Sua sabedoria divina (Lucas 2:46-47).
João 7:16-18 “Jesus lhes respondeu e disse: A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou. Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus ou se eu falo de mim mesmo. Quem fala de si mesmo busca a sua própria glória, mas o que busca a glória daquele que o enviou, esse é verdadeiro, e não há nele injustiça.”
Jesus afirma que Seu ensinamento vem de Deus, não de Si mesmo. Ele convida a uma prova prática: quem deseja fazer a vontade de Deus reconhecerá a verdade de Sua doutrina. Isso destaca Sua missão de glorificar o Pai (João 5:30).
João 7:19 “Não vos deu Moisés a lei? E nenhum de vós observa a lei. Por que procurais matar-me?”
Jesus acusa os líderes de hipocrisia, apontando que, apesar de valorizarem a Lei, eles próprios não a seguem plenamente. A acusação de buscar Sua morte demonstra a injustiça deles.
João 7:20 “A multidão respondeu e disse: Tens demônio; quem procura matar-te?”
A multidão, ignorante dos planos dos líderes, acusa Jesus de paranoia ou possessão demoníaca, mostrando a confusão e a incredulidade sobre a gravidade da situação.
João 7:21-24 “Respondeu Jesus e disse-lhes: Fiz uma só obra, e todos vos maravilhais. Pelo motivo de que Moisés vos deu a circuncisão (não que seja de Moisés, mas dos pais), no sábado circuncidais um homem. Se o homem recebe a circuncisão no sábado, para que a lei de Moisés não seja quebrantada, indignais-vos contra mim, porque no sábado curei de todo um homem? Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça.”
Jesus menciona a cura no sábado (João 5:1-18) para expor a incoerência dos líderes: circuncidar no sábado é permitido, mas curar não. Ele exorta a um julgamento justo, não superficial.
João 7:25-27 “Diziam, pois, alguns de Jerusalém: Não é este o que procuram matar? E eis que ele fala abertamente, e nada lhe dizem. Porventura sabem verdadeiramente os príncipes que este é o Cristo? Todavia, bem sabemos de onde este homem é; mas, quando vier o Cristo, ninguém saberá de onde ele é.”
Alguns habitantes de Jerusalém reconhecem a busca para matar Jesus, mas se surpreendem com Sua ousadia pública e a inação dos líderes. Eles debatem Sua origem e a ideia messiânica tradicional.
João 7:28-29 “Clamava, pois, Jesus no templo, ensinando e dizendo: Vós me conheceis, e sabeis de onde sou; e eu não vim de mim mesmo, mas aquele que me enviou é verdadeiro, o qual vós não conheceis. Mas eu conheço-o, porque dele sou e ele me enviou.”
Jesus responde aos questionamentos, afirmando conhecer Deus, de quem veio e que O enviou. Ele confronta a ignorância espiritual dos líderes religiosos.
João 7:30-31 “Procuravam, pois, prendê-lo, mas ninguém lançou mão dele, porque ainda não era chegada a sua hora. E muitos da multidão creram nele, e diziam: Quando Cristo vier, fará ainda mais sinais do que os que este tem feito?”
Apesar das tentativas de prender Jesus, Ele está protegido pelo tempo divino. Muitos na multidão creem nEle devido aos Seus sinais, reconhecendo Sua autoridade messiânica.
João 7:32-34 “Os fariseus ouviram que a multidão murmurava dele isto, e os principais dos sacerdotes e os fariseus mandaram guardas para o prenderem. Disse-lhes, pois, Jesus: Ainda um pouco de tempo estou convosco, e depois vou para aquele que me enviou. Buscar-me-eis, e não me achareis; e onde eu estou, vós não podeis vir.”
Os líderes religiosos enviam guardas para prender Jesus, mas Ele declara que Seu tempo é curto e que voltará ao Pai. Eles não O entenderão nem O seguirão espiritualmente.
João 7:35-36 “Disseram, pois, os judeus uns para os outros: Para onde irá este que o não acharemos? Irá, porventura, para os dispersos entre os gregos, e ensinará os gregos? Que palavra é esta que disse: Buscar-me-eis, e não me achareis; e onde eu estou, vós não podeis vir?”
Os judeus, confusos, especulam sobre Suas palavras. Eles não compreendem Sua referência à ascensão e ao relacionamento exclusivo com Deus.
João 7:37-39 “E no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre. E isto disse ele do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado.”
Jesus oferece “água viva”, simbolizando o Espírito Santo que será dado após Sua glorificação. Ele se apresenta como a fonte de vida espiritual verdadeira.
João 7:40-44 “Então muitos da multidão, ouvindo esta palavra, diziam: Verdadeiramente este é o Profeta. Outros diziam: Este é o Cristo. Mas diziam outros: Vem, pois, o Cristo da Galiléia? Não diz a Escritura que o Cristo vem da descendência de Davi, e de Belém, da aldeia de onde era Davi? Assim, pois, houve uma dissensão entre o povo por causa dele. E alguns deles queriam prendê-lo, mas ninguém lançou mão dele.”
A multidão continua dividida: alguns acreditam que Ele é o Profeta ou o Cristo, enquanto outros duvidam por causa de Sua origem galileia, desconhecendo Seu nascimento em Belém (Miquéias 5:2).
João 7:45-46 “Os guardas foram ter com os principais dos sacerdotes e fariseus; e estes lhes disseram: Por que não o trouxestes? Responderam os guardas: Nunca homem algum falou assim como este homem.”
Os guardas, impressionados por Suas palavras, não prendem Jesus, reconhecendo Sua autoridade incomum e Seu poder persuasivo.
João 7:47-49 “Responderam-lhes, pois, os fariseus: Também vós fostes enganados? Creu nele, porventura, algum dos principais ou dos fariseus? Mas esta multidão, que não sabe a lei, é maldita.”
Os fariseus desprezam os guardas e a multidão por serem influenciados por Jesus, demonstrando arrogância e desprezo pelos que não compartilham sua visão legalista.
João 7:50-52 “Nicodemos, que de noite fora ter com Jesus, sendo um deles, disse-lhes: Porventura condena a nossa lei um homem sem primeiro o ouvir e ter conhecimento do que faz? Responderam eles e disseram-lhe: És tu também da Galiléia? Examina e verás que da Galiléia nenhum profeta surgiu.”
Nicodemos, um fariseu que já buscou Jesus (João 3), defende a justiça, mas é ridicularizado por seus pares, que desprezam Galiléia e ignoram evidências históricas e proféticas.
Conclusão:
O capítulo 7 de João revela a complexidade do ministério de Jesus, enfrentando crescente oposição enquanto cumpre Seu propósito divino. Sua presença na Festa dos Tabernáculos e Seus ensinamentos no Templo provocam intensas reações, desde a fé genuína até a rejeição hostil.
A divisão entre os judeus destaca o impacto das palavras de Jesus e a confusão sobre Sua verdadeira identidade. Alguns reconheceram Seus sinais e creram nEle como o Messias, enquanto outros, presos a preconceitos e tradições, O rejeitaram.
Jesus continua a se revelar como a fonte de vida e verdade, oferecendo o Espírito Santo como promessa para os que creem. Sua sabedoria e autoridade confundem e desafiam as autoridades religiosas, expondo a hipocrisia e a superficialidade de seus julgamentos.
Para os leitores de hoje, este capítulo nos convida a examinar nossa própria resposta a Jesus. Reconhecemos Sua divindade e Sua oferta de vida espiritual, ou deixamos que preconceitos e tradições nos afastem da verdade? A mensagem de Jesus continua relevante, convidando-nos a uma fé viva e transformadora.