No Evangelho de João 6:60, encontramos um dos momentos mais significativos do ministério de Jesus: a reação de seus discípulos ao Seu ensinamento sobre o “pão da vida“. Este trecho ilustra a profundidade dos ensinamentos de Cristo e a dificuldade de muitos em aceitá-los, levando à deserção de muitos discípulos. A confissão de Pedro, no entanto, emerge como um testemunho poderoso de fé e comprometimento.
Neste estudo, examinaremos João 6:60-70, versículo por versículo, para entender melhor o contexto, a mensagem de Jesus e as reações dos discípulos. Utilizaremos outros textos bíblicos para complementar e enriquecer nossa compreensão, proporcionando uma reflexão profunda sobre o que significa seguir a Cristo.
Versículo 60: “Então muitos dos seus discípulos, ouvindo isso, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir?”
A afirmação dos discípulos reflete a dificuldade em aceitar o ensinamento de Jesus sobre comer Sua carne e beber Seu sangue, simbolizando a necessidade de uma união espiritual profunda com Ele. Esta reação não é incomum, pois os ensinamentos de Jesus desafiavam frequentemente as tradições e expectativas da época. Em Mateus 19:25-26, vemos outra reação de espanto dos discípulos sobre a salvação, ao que Jesus responde que para Deus todas as coisas são possíveis.
Versículo 61: “Sabendo, pois, Jesus em si mesmo que os seus discípulos murmuravam disto, disse-lhes: Isto vos escandaliza?”
Jesus, conhecendo os pensamentos dos discípulos, questiona diretamente se Seu ensinamento os escandaliza. Ele frequentemente usava perguntas para desafiar os ouvintes a refletirem sobre suas crenças e preconceitos. Em João 2:24-25, vemos que Jesus conhecia todos os homens e sabia o que havia no coração deles, demonstrando Sua onisciência.
Versículo 62:“Que seria, pois, se vísseis subir o Filho do homem para onde primeiro estava?”
Aqui, Jesus aponta para Sua futura ascensão ao céu, sugerindo que se os discípulos têm dificuldade em aceitar Sua mensagem terrena, como reagiriam à Sua glorificação celestial? Este ponto é crucial, pois a ascensão de Jesus, relatada em Atos 1:9-11, confirma Sua divindade e missão redentora.
Versículo 63: “O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida.”
Jesus enfatiza a primazia do espiritual sobre o material. A carne, por si só, não tem valor eterno, mas o espírito é que dá vida verdadeira. Suas palavras, portanto, são espirituais e carregam vida eterna. Este princípio é ecoado em 2 Coríntios 3:6, onde Paulo fala sobre a letra que mata e o espírito que vivifica.
Versículo 64: “Mas há alguns de vós que não crêem. Porque bem sabia Jesus, desde o princípio, quem eram os que não criam e quem era o que o havia de entregar.”
Jesus, mais uma vez demonstrando Sua onisciência, reconhece que há descrença entre os seus seguidores. Este conhecimento prévio é também uma preparação para a revelação da traição de Judas, como mencionado em João 13:11. A presença de descrentes entre os seguidores de Jesus é um tema recorrente que ilustra o desafio da verdadeira fé.
Versículo 65: “E dizia: Por isso vos disse que ninguém pode vir a mim, se por meu Pai lhe não for concedido.”
Aqui, Jesus reafirma a necessidade da graça divina para que alguém possa realmente vir a Ele. Este ensinamento sobre a eleição e a graça divina é também encontrado em Efésios 2:8-9, onde Paulo explica que a salvação é um dom de Deus, não resultado de obras humanas.
Versículo 66: “Desde então muitos dos seus discípulos tornaram para trás, e já não andavam com ele.”
Este versículo marca um momento de divisão, onde muitos decidem abandonar Jesus por acharem Suas palavras difíceis de aceitar. É um lembrete de que seguir Jesus pode exigir sacrifícios e um compromisso que nem todos estão dispostos a fazer, como ilustrado em Lucas 9:62, onde Jesus fala sobre a dedicação necessária para segui-Lo.
Versículo 67: “Então disse Jesus aos doze: Quereis vós também retirar-vos?”
Jesus, enfrentando a deserção de muitos, questiona diretamente os Doze, colocando-os diante de uma decisão crucial. Este desafio revela a seriedade do discipulado e a necessidade de uma escolha consciente e voluntária para seguir Cristo, como visto em Josué 24:15, onde Josué chama o povo a escolher a quem servir.
Versículo 68: “Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna.”
A confissão de Pedro é um testemunho de fé e reconhecimento de que apenas Jesus oferece a vida eterna. Este momento é paralelo à declaração de Pedro em Mateus 16:16, onde ele reconhece Jesus como o Cristo, o Filho do Deus vivo, destacando a compreensão e a fé profundas de Pedro.
Versículo 69: “E nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho de Deus.”
Pedro continua a afirmar a crença dos discípulos na identidade divina de Jesus. Esta declaração é uma reafirmação da fé que os distingue dos que se afastaram. João 20:31 reforça a ideia de que o propósito do Evangelho é que todos possam crer que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e que, crendo, tenham vida em Seu nome.
Versículo 70: “Respondeu-lhes Jesus: Não vos escolhi a vós os doze? E um de vós é um diabo.”
Jesus conclui este diálogo com uma referência direta à traição de Judas, sublinhando que, mesmo entre os escolhidos, há um traidor. Este alerta sobre a presença do mal entre os bons é um tema que Jesus aborda em várias parábolas, como a do joio e do trigo em Mateus 13:24-30, ilustrando a coexistência do bem e do mal até o julgamento final.
Versículo 71: “E isto dizia ele de Judas Iscariotes, filho de Simão; porque este o havia de entregar, sendo um dos doze.”
Neste versículo, João esclarece que Jesus estava se referindo a Judas Iscariotes, que seria o traidor. Judas, um dos doze discípulos escolhidos por Jesus, estava destinado a trair seu Mestre. Esta menção específica sublinha a traição iminente e destaca a onisciência de Jesus, que conhecia desde o início o papel que Judas desempenharia. A traição de Judas é um tema recorrente que culmina na sua entrega de Jesus às autoridades, conforme relatado em Mateus 26:14-16, enfatizando a soberania divina sobre os eventos que levariam à crucificação e à redenção.
Conclusão
Este trecho de João 6:60-71 é um chamado à reflexão profunda sobre a nossa fé e compromisso com Jesus. A deserção de muitos discípulos nos desafia a considerar se estamos prontos para aceitar todos os ensinamentos de Cristo, mesmo aqueles que são difíceis de entender ou exigem grande sacrifício.
A confissão de Pedro, em contraste, nos inspira a renovar nosso compromisso com Jesus, reconhecendo que Ele é a fonte da vida eterna. Devemos, como Pedro, declarar nossa fé mesmo diante das dificuldades e incertezas.
Este estudo também nos lembra da importância da graça divina em nosso caminho de fé. Sem a ação do Pai, ninguém pode verdadeiramente vir a Jesus. Isso nos chama a uma vida de oração e dependência de Deus.
Finalmente, devemos estar atentos à presença do mal, mesmo em nosso meio, e perseverar na fé, confiando que Jesus, que conhece nossos corações, nos guiará até o fim.